segunda-feira, 25 de maio de 2009

"VELHOS DE LISBOA"


Em suma:somos os velhos,
cheios de cuspo e conselhos,
velhos que ninguém atura
a não ser a literatura

E outros velhos. (os novos afirmam-se por maus modos com os velhos). Senectude
é tempo não é virtude.....

Decorativos? Talvez.....
Mas por dentro"era uma vez...."

Velhas atrozes, saídas
de tugúrios impossíveis, disparam, raivoso o dente,
contra tudo e toda a gente.

Velhinhas de gargantilha
Visitam o neto, a filha,
e levam bombons de creme
ou "palitos de la reine".

A ler p´lo sistema Braille
Ó meu senhores escutai!
um velho tira dos dedos
profecias e enredos.

Outros mijam, fazem esgares,
têm poses e vagares
bem merecidos. Nos jardins,
descansam, depois, os rins.

Aqueloutros (os coitados!)
imaginam-se poupados
pelo tempo, e ás escondidas
partem p´ra novas sortidas.....

Muito digno o reformado
perora, e é respeitado
na leitaria:"A mulher
é em casa que se quer"!

Velhotes com mais olhinhos
que tu, fazem recadinhos,
pedem tabaco ao primeiro
e mostram pouco dinheiro.....

E os que juntam capicuas
e fotos de mulheres nuas?
E os tontinhos, os gaiteiros,
que usam cravop e põem cheiros?

(Velhos a arrastar a asa pago bem e vou a casa)

E a velha que se desleixa
e morre sem uma queixa?
E os que armam aos pardais
nessas hortas e quintais?

(Quem acerta co´os botões
deste velho? Venha a cidade
ajudá-lo a abotoar
que não faz nada de mais!)

Velhos, ó meus queridos velhos,
saltem-me para os joelhos:
vamos brincar?




Poema de
Alexandre O`Neill

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